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Pedro AlmeidaNão há demasiados anos, ouvíamos os carros de som do PSD espalharem pelo Concelho “Um Presidente Forte, Um Concelho mais forte”. Muitos, como eu, ainda temos a uso as pegas de cozinha com o slogan estampado. O Presidente era, como há vinte e dois anos, Alfredo Henriques, e o partido o PSD.

 

Já muito se tem dito aqui sobre a situação da Rohde. De todas as opiniões que foram sendo registadas, uma certeza parece afirmar-se: ninguém traz no bolso a chave para este problema. Mas é bom lembrar aqui outra certeza: para o autarca, como para o ciclista, parar é cair e fazer cair. O nosso executivo não tem o direito de se remeter ao silêncio. Mesmo perante o escandaloso mobilismo do governo, que pouco se preocupa em fazer respeitar os direitos dos trabalhadores e honrar os apoios e subvenções estatais que ao longo de anos foram vertidos para a Rohde, mesmo perante o baixar de braços colectivo, a nossa Câmara, na condição de primeiro representante político por excelência de todos os feirenses, não poderá aguardar o desfeche para depois dizer que nada podia ter feito. Aos nossos políticos locais impõe-se a obrigação de tratar por tu os trabalhadores, de estar ao seu lado nos momentos decisivos, e, sobretudo, de juntar à deles a sua voz quando se trata de defender um dos pilares da sobrevivência económica e financeira do Concelho. Nesta medida, aqui deixamos o nosso alerta, recordando que nenhuma solução baseada na amputação maioritária dos membros de um corpo deixa um organismo pronto a viver: não acreditamos que a solução da Rohde passe por um sacrifício da maioria em virtude de uma minoria eleita.

 

Os órgãos de poder devem justificar a sua existência em momentos como este. Hipotecar o futuro da maioria para que uns poucos avancem com um projecto não é a solução socialmente responsável, e cabe ao poder fornecer os meios necessários para ultrapassar este impasse. Se os não tiver à mão, não será digno do cargo que ocupa se não envidar todos os esforços no exercício de pressão e influência a exigir do poder soberano uma resposta ágil e adequada.

 

Neste quadro, estamos conscientes da redobrada pertinência a Moção sobre o 1.º de Maio que vimos propor a esta Assembleia, e cuja leitura antecipadamente agradeço à Mesa.

 

Porque, meus senhores, ao contrário do que queriam fazer acreditar, não é um Presidente mais forte que cria um Concelho forte. É, sim, um Presidente cuja força resida na capacidade de dar expressão política e pública à voz das necessidades dos munícipes.

 

Num concelho onde o desemprego é galopante e as oportunidades escasseiam à velocidade a que assumimos uma condição periférica, os feirenses vêem já bater à porta um novo imposto: desta vez, para sair do concelho. O emorando da Direcção de Estradas do Porto, revelando que o Governo tem conhecimento da inexistência de alternativas à A29 com as condições mínimas de circulação normal, demonstra que o PCP tinha razão quando denunciou o absurdo de portajar vias fundamentais de circulação sem que haja alternativas viáveis. Mas foi com surpresa que constatamos o retrocesso da posição do Presidente da Câmara da Feira. Se há poucos meses era frontalmente contra, agora adopta uma postura de resoluta indiferença, dizendo que a haver, que seja em todas as auto-estradas, pouca atenção dispensando ao facto de nós, feirenses, não termos alternativas à A29. É bom não esquecer que a rede de transportes públicos que cobre o nosso concelho se encontra obsoleta e atrofiada. Gostaria de perguntar se terá pensado nos milhares de estudantes do nosso concelho que, não podendo pagar um quarto na cidade onde estudam, diariamente se organizam e dividem os carros e os custos do combustível para chegar a Aveiro ou ao Porto, a quem agora querem pedir uma portagem diária para chegar à Faculdade. Ou nas jovens famílias que, desempenhando as suas profissões nas cidades da linha Porto-Aveiro, escolheram a Feira como lar, e agora têm que pagar para ir trabalhar. É assim que se defende a fixação de jovens no Concelho? Não. Mas, provavelmente, este é um primeiro grande passo para a secundarização da nossa região, assim afastada dos centros de poder económico e cada vez menos atractiva para qualquer pessoa em começo de vida. Porque terras onde se paga portagem para ir, são terras onde só se vai ao fim-de-semana. “Um Presidente forte, um Concelho mais forte”. O que se passa connosco, Sr. Presidente?

 

Esta não é uma pergunta retórica. É com uma certa incompreensão triste que me começo a habituar à impotência do executivo para resolver os problemas reais que nos tocam. Sei que a resposta que irei merecer à questão das portagens nas SCUT's é o já costumeiro abanar de cabeça acompanhado pela fórmula “já estava decidido, não acredito que possa ainda haver um recuo do Governo”.

 

Mas a perda de influência do nosso Concelho, infelizmente, não se fica por aqui. É o mesmo abanar de cabeça quando se fala no aterro sanitário, foi o mesmo desânimo quando levantámos a necessidade de requalificar o Vouguinha, a mesma longa agonia atravessa o assunto da via Feira-Arouca, e o nosso parque escolar definha, à vista de uma mão cheia de promessas, sem que uma intervenção de fundo venha dotá-lo das infraestruturas necessárias. Ainda se lembram do “Um presidente forte, um concelho mais forte”? Mesmo se a carta educativa de 2001 defendia já a necessidade de, pelo menos, uma secundária em Paços de Brandão, mesmo se o Partido Socialista votou contra a nossa proposta, em sede de PIDDAC, de inclusão de uma escola secundária no Concelho. Minhas Senhoras e meus Senhores, estamos a passar para segundo plano. Aqui, nada permanece. Se há aí um cantinho para guardar as primeiras pedras lançadas por altura das eleições, queiram informar-nos. Não para criar um museu das primeiras pedras, mas porque somos a favor da reutilização e reciclagem, e tantas primeiras pedras abandonadas podem dar jeito a muita gente.

 

Talvez as pudéssemos utilizar para concluir a obra estagnada. A Casa Mortuária Municipal, por exemplo. Tendo o Sr. Presidente da Junta de Freguesia da Feira dito que estaria concluída e pronta em Outubro, já vamos no fim de Abril e nada. Entretanto, não há um espaço condigno para a realização das cerimónias fúnebres em espaços laicos. A CDU irá brevemente apresentar um requerimento a este respeito, visando um esclarecimento da população quanto à situação.

 

Porém, e antecipando a resposta determinista do abanar de cabeça acompanhado por uma declaração de impotência da Câmara para resolver problemas que a transcendem, não queria deixar de sublinhar o pequeno-grande erro ortográfico que persiste na toponímia local.

 

Será que é preciso vir o «Nós Por Cá» para se corrigir o nome de Manuel Laranjeira no concelho natal do autor? Nós por cá, achamos que não.