Assinala-se em 2013 o centenário do nascimento de Álvaro Cunhal. Militante e dirigente comunista, Secretário-geral do Partido Comunista Português, Ministro sem Pasta nos quatro primeiros Governos Provisórios, eleito à Assembleia Constituinte em 1975 e à Assembleia da República nas eleições realizadas entre 1975 e 1987, Álvaro Cunhal é no século XX e na passagem para o século XXI em Portugal umas das mais destacadas personalidades da luta pelos valores da emancipação social e humana, com forte projecção no plano mundial, designadamente como um dos mais conhecidos e prestigiados dirigentes do movimento comunista internacional.

A vida, pensamento e luta de Álvaro Cunhal justificam e tornam incontornável uma significativa homenagem. Comemorar o centenário do seu nascimento é salientar o seu exemplo inserido na acção colectiva em que se integrou e na causa à qual dedicou toda a sua vida. Comemorar o centenário do nascimento de Álvaro Cunhal é promover a valorização de um legado constituído por um pensamento, acervo de análises e acção que expressam um conteúdo a que a vida deu e dá razão, e que tem uma crescente projecção na actualidade e no futuro – razão e actualidade quotidianamente sublinhadas pela crise do capitalismo que várias sociedades desenvolvidas atravessam, e que vem concretizar algumas das mais sólidas projecções que Álvaro Cunhal antecipa e analisa na sua obra.

Álvaro Cunhal projecta-se, assim, como exemplo de abnegação, coragem e tenacidade raras, exemplo de uma vida inteiramente dedicada à sua opção de classe, opção de permanecer intransigentemente ao lado da classe operária e dos trabalhadores. O contributo de Álvaro Cunhal para o derrubamento da ditadura fascista assume uma relevância inequívoca na história do século XX português: preso nas prisões do regime em 1937, 1940, 1949, e condenado a 11 anos de encarceramento, oito anos em completo isolamento, Álvaro Cunhal persistiria numa postura de empenhada militância, mesmo sob a mais adversas condições e sujeito a tortura e privação.

Transferido da Penitenciária de Lisboa para a prisão-fortaleza de Peniche, evadiu-se em 3 de Janeiro de 1960 com um grupo de outros destacados militantes comunistas.

O período desde o início dos anos 60 até à Revolução de Abril de 1974 é extraordinariamente intenso. Álvaro Cunhal interveio decididamente para a criação das condições necessárias à Revolução de Abril, promovendo, aos mais diversos níveis, uma aguda consciência da situação nacional, traçando uma orientação para o derrubamento do fascismo em Portugal, e contribuindo para a definição de tarefas e direcção da acção política de muitos comunistas e democratas na clandestinidade.

Após o 25 de Abril de 1974, Álvaro Cunhal pôde desenvolver a acção política nas condições de liberdade que a Revolução proporcionou. Foi Ministro sem Pasta nos primeiros quatro Governos Provisórios e eleito deputado à Assembleia Constituinte em 1975 e à Assembleia da República nas eleições realizadas entre 1975 e 1987. Foi membro do Conselho de Estado de 1982 a 1992. A sua intervenção na fase do desenvolvimento do processo democrático e posteriormente, na defesa das conquistas da Revolução atingidas pelo processo contra-revolucionário, é profundamente marcada pela avaliação e o estímulo ao papel da luta da classe operária, dos trabalhadores, das massas populares.

Militante, dirigente comunista de envergadura internacional, estadista, intelectual, mas também brilhante escritor, escultor, pintor e comunicador, dotado de sólida e sempre inovadora qualificação teórica, que conjugava com profundo humanismo e extraordinária cultura, Álvaro Cunhal assume um destaque inegável na história do século XX português.    

A CDU – Coligação Democrática Unitária de Santa Maria da Feira entende, pelo exposto, que é de toda a justiça reconhecer, por ocasião deste centenário, o papel central que Álvaro Cunhal desempenhou na história recente de Portugal, e perpetuar o seu nome na toponímia do concelho de Santa Maria da Feira, à semelhança do que já fizeram tantos outros municípios, como Porto, Lisboa, Setúbal, Coimbra.

Trata-se de uma homenagem simples, mas que permite às gerações futuras questionarem-se sobre a importância do homem por detrás deste nome nas mais justas transformações políticas e sociais operadas em Portugal em todo o século XX.

Assim, a CDU – Coligação Democrática Unitária de Santa Maria da Feira, propõe à Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira, reunida na sessão de 28 de Junho de 2013, recomendar à Comissão Municipal de Toponímia, através da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira:

1.       Atribuir o nome de “Álvaro Cunhal” a um espaço público (rua, avenida, largo, praça, ou outra disposição urbanística condizente com a importância da figura histórica a homenagear) na sede do município de Santa Maria da Feira.

 

Santa Maria da Feira, Junho de 2013

 

(Aprovado por unanimidade na Assembleia Municipal de 28 de Junho de 2013)