Em virtude da Conferência de Imprensa da CDU, no passado dia 1 de julho, junto à Casa da Mala-posta em Sanfins, com os Candidatos à Câmara e Assembleia Municipal da coligação, Antero de Oliveira Resende e Filipe Moreira, respetivamente, fez-se chegar à Câmara Municipal de Stª Mª da Feira a recomendação transcrita abaixo. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Recomendação para a Câmara Municipal de Stª Mª da Feira

Casa da Mala-posta em Sanfins

...ontem como hoje

Faz parte da história o processo de extinção do Ofício do Correio-Mor, que durante dois séculos pertenceu a uma família ilustre, deu origem em Portugal à Mala-Posta, passando o Estado em 1797 a tomar conta da sua exploração. Este serviço em carruagem, passou também a incluir o transporte de passageiros o que era novidade para a época e acompanhava a modernidade ao seu tempo. Pouco mais de duzentos anos se passaram entretanto sobre o fim do primeiro período de funcionamento da Mala – Posta (Lisboa a Coimbra, de 1798 a 1804). 

É durante o período em que está Fontes Pereira de Melo à frente do Ministério das Obras Públicas, que se opera uma verdadeira revolução nos serviços de transportes e comunicações. Ainda hoje é comum ouvir-se o termo popular “estradas em macdame” que vem da altura em que o método «Mac-Adam» foi utilizado na estrada Lisboa – Porto. A partir de meados do século dezanove, a ligação entre Lisboa e Porto através das carreiras da Mala-Posta fazia-se em aproximadamente 34 horas e passava por 23 estações de muda.

O edifício da Mala-Posta de Sanfins, ou de S. Jorge ou ainda antiga muda de Souto Redondo, apresenta a característica arquitetura destes imóveis como sejam uma planta em U, com os dois volumes virados para a via que lhe passa à frente, rasgados por dois janelões à esquerda e duas portas à direita, todos encimados por um arco de volta perfeita. O corpo mais recuado é rasgado por uma porta de remate idêntico lateralizada por duas janelas semicirculares, viradas para um pátio interior. Este edifício de arquitetura civil foi classificado como imóvel de interesse público em 1974 (735/74, DG 297, de 21-12-1974).

Ao longo da ligação Porto – Lisboa que popularmente ainda hoje se ouve designar por “estrada real” foram então edificadas construções com um estilo arquitetónico característico, onde os viajantes podiam dormir e cear se assim o pretendessem.

Em Terras de Santa Maria, mais concretamente na localidade ainda hoje apelidada de “Mala-posta de Sanfins “ ou simplesmente de Mala-posta como se depreende até da própria designação foi construída uma dessas edificações, que esteve em funcionamento até as diligências que prestaram um bom serviço ao país e á população verem o seu futuro ser posto em causa pelo aparecimento do comboio que veio dar a estocada irreversível da sua extinção.

Ontem, o vetusto concelho da Feira, assumia o seu lugar na senda do progresso fazendo parte do que se entendia como de mais moderno para a época, e, estrategicamente como concelho de charneira com a grande cidade que era o Porto ficava na sua rota de acessibilidades tirando daí os respetivos proventos.

Hoje, desse tempo onde assumidamente marcamos presença nos lugares cimeiros, pouco resistiu à erosão do tempo e dos homens. O edifício da “Mala-posta de Sanfins” é sem sombra de dúvidas um dos últimos a teimosamente manter-se de pé apesar do desmazelo e do abandono confrangedor a que foi quiçá premeditadamente votado.

Grande parte do texto acima transcrito fez parte de uma pergunta Endereçada pelo partido “Os Verdes” ao Ministério da Cultura em 15 de dezembro de 2009. Em resposta à mesma foi proferida a resposta que sucintamente se resumia ao seguinte conteúdo que foi endereçado por nós à ilustríssima câmara municipal de Santa Maria da Feira:

  1. O Ministério da Cultura tem conhecimento desta situação e, por considerá-la preocupante, dela deu conta à Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, tendo simultaneamente apresentado, através da Direção Regional de Cultura do Norte, toda a disponibilidade para apoiar tecnicamente qualquer iniciativa que a autarquia tome no sentido da salvaguarda e valorização do imóvel em questão. (sublinhado nosso)
  2. Atenta a propriedade privada do imóvel, sua proteção legal e legislação aplicável em vigor, é dever do detentor desta antiga estação de mala-posta assegurar a sua integridade e evitar a sua deterioração. (sublinhado nosso)
  3. Informa-se da existência de cerca de oito edifícios congéneres.
  4. Dessas edificações, apenas três se encontram classificadas e sem propostas de recuperação rececionadas neste Ministério.

Um poder político que abandona assim a sua história, abandona a alma do seu passado, destrói o nosso imaginário coletivo, e, é incapaz de projetar caminhos de futuro.  

Assim a Coligação Democrática Unitária de Santa Maria da Feira vem recomendar à câmara municipal de Santa Maria da Feira:

a) Que se adquira o imóvel na sua totalidade – construções e logradouros – pois o atual proprietário não cumpre com o preconiza a legislação;

b) Que se recupere o imóvel dentro da traça e dos materiais que lhe são característicos à época da sua construção;

c) Dada a sua excecional localização que seja vocacionada essa recuperação para que o edifício se transforme em posto de informação turística municipal;

d) Que do mesmo modo essa reconversão possibilite que ali se instale um albergue para “caminheiros de Santiago” e peregrinos de Fátima;

 

 

Stª Mª da Feira, 1 de julho de 2017

Comissão Coordenadora de Stª Mª da Feira da CDU