O uso arbitrário de herbicidas em Portugal tem contornos verdadeiramente aterradores. Quem o afirma são as Organizações Não Governamentais e a própria Ordem dos Médicos sendo que a sua utilização nos espaços públicos do município da Feira está fora de qualquer controlo. Cumpre-nos denunciar esta realidade, alertando para a existência de perigo para o ambiente e para a saúde pública, resultante da aplicação de herbicidas dentro dos perímetros urbanos e em diversas estradas, situação que ocorre com uma frequência diária um pouco por todo o país e, como não poderia deixar de ser em Santa Maria da Feira.

Ainda recentemente, a empresa a quem a Câmara concessionou a limpeza urbana na cidade da Feira, procedia a pulverizações em pleno dia, junto de uma escola de 1º ciclo, encontrando-se inclusive as crianças a entrar no estabelecimento. Os aplicadores do veneno estabeleciam conversa com muitos dos progenitores que traziam as crianças à escola, num quadro da maior das leviandades e incúria. Este episódio, que é recorrente nas freguesias com limpeza concessionada à SUMA, foi observado e denunciado ao vereador do pelouro do Ambiente que se limitou a referir que o produto que estava a ser aplicado era homologado. Alertamos daqui o senhor vereador, para o facto de que esta atividade não se coaduna com os princípios da Agenda 21 Local, a qual se encontra em processo de implementação em diversas autarquias por todo o País, incluindo-se a Feira.

À CDU chegam amiúde denúncias, sendo referidas suspeitas de diversos casos de envenenamento acidental de animais, de contaminação de linhas de água e de desrespeito pelas normas básicas de segurança na aplicação destes produtos químicos. A situação é tal maneira grave que na Europa, o tipo de pesticida mais vulgarmente detectado nas águas interiores subterrâneas e superficiais é o dos herbicidas. Sabe-se igualmente que os campos agrícolas onde se trabalha a terra em sistema de produção biológica, a biodiversidade é seis vezes superior àqueles onde se usa herbicida. O próprio solo acaba por entrar em declínio pelo desaparecimento das bactérias e fungos benéficos à terra.

Recentemente foi travado um enorme braço de ferro entre os ecologistas e a indústria produtora destes químicos, no sentido da não prorrogação das licenças, e estas foram drasticamente encurtadas e atribuídas a título provisório. Avança-se para a eliminação do uso de agro-químicos tóxicos na agricultura, pelo que, não faz qualquer sentido a sua aplicação em locais públicos em Santa Maria da Feira. Para além disso, a sua utilização acarreta riscos para a Saúde Pública a diferentes níveis: para quem os aplica, para quem vive em locais onde são utilizados e para quem consome alimentos produzidos com recurso ao uso destes produtos. A título de exemplo, indicamos os principais impactos de 2 herbicidas de utilização muito comum no nosso país:

- Glifosato – Apareceu como desengordurante para a indústria de metalomecânica, é prejudicial para numerosos insectos entre eles as abelhas, induz alterações microbiológicas do solo, podendo inibir a assimilação de fósforo pelas plantas e aumentar a vulnerabilidade da cultura a determinadas doenças. Nos humanos duplica o risco de aborto espontâneo. Tem uma enorme capacidade cancerígena.

- Paraquato – Conhecido desde os anos 50, é o herbicida mais tóxico existente atualmente no Mundo, conhecido pelo seu potencial cancerígeno e sua elevadíssima toxicidade, capaz de afectar a saúde das pessoas e animais. Causa queimaduras nos locais de contacto, e uma vez absorvido no organismo provoca insuficiência renal, hepática e cardíaca. A sua elevadíssima toxidade fez com que a sua venda fosse proibida em países com maior consciência ambiental, em Portugal encontra-se à venda em qualquer drogaria ou cooperativa agrícola do país.

Estudos científicos, realizados em França em trabalhadores aplicadores destes produtos nas vinhas, apresentavam resultados alarmantes e uma presença precoce de sintomas da “Doença de Parkinson”. Os efeitos danosos dos herbicidas sobre o cérebro foram reconhecidos como o principal fator ambiental associado a desordens neurodegenerativas, incluindo a doença de Parkinson. O início de Parkinson após a exposição ao glifosato foi bem documentado, e estudos em laboratório mostram que o glifosato provoca morte celular característica da doença. Outros estudos apontam o glifosato como tendo um número de efeitos biológicos alinhados a conhecidas patologias associadas ao autismo. Além disso, a capacidade do glifosato de facilitar a acumulação de alumínio no cérebro poderia fazer deste a principal causa de autismo nos Estados Unidos.

Para os Ambientalistas de “Os Verdes” e para todos os cidadãos conscientes desta grave situação, só nos resta apelar uma vez mais, à autarquia Feirense, para que o uso de herbicidas em espaços públicos seja abandonado de vez, pois existem métodos alternativos como os meios mecânicos, queimadores a gás, etc., para o controlo da vegetação herbácea/arbustiva. Se não resultar, a mudança de sentido de voto pode sempre surtir o efeito desejado!

Antero Resende