Lúcia GomesMulheres em solidariedade na luta de todos e todas!

No dia 30 de Maio as Mulheres têm muitos motivos para tomarem a luta nas suas mãos. O concelho de Santa Maria da Feira tem sido um espelho das consequências de décadas de opções políticas que têm resultado em graves retrocessos sociais, em situações de desemprego alarmantes, em que as principais afectadas têm sido, precisamente, as mulheres e, especialmente as mulheres operárias. O sector do calçado tem sido o exemplo mais característico da incidência da desumanização das relações laborais. Homens e mulheres são tratados como seres dispensáveis, encostados a um canto quando deixam de servir os propósitos do lucro e da dita produtividade. A Ecco, a Rohde, são empresas onde centenas de mulheres e homens lutaram e lutam a cada dia pela sua sobrevivência, pela manutenção de tudo quanto conquistaram, pelo direito ao trabalho e ao trabalho com direitos, depois de anos e anos de trabalho em que dedicaram tudo de si e do seu saber.

De acordo com os dados publicados mensalmente pelo Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, relativamente ao desemprego registado no centro de emprego de S. João da Madeira no mês de Março deste ano (que abrange os desempregados de S. João da Madeira, Santa Maria da Feira, Arouca, Castelo de Paiva, Vale de Cambra e Oliveira de Azeméis), este é o centro de emprego da região norte com o maior número de desempregados inscritos – 12.483, sendo que 8.109 são mulheres e 4.374 são homens. Isto é, o número de mulheres desempregadas é quase o dobro do número de homens desempregados. Desagregando as estatísticas por idades, podemos ainda verificar que há mais desemprego entre os 35-54 anos (5.606), idades em que se torna muito difícil encontrar uma nova colocação: são pessoas novas demais para se reformarem e velhas demais para trabalhar. E assim se entra num beco sem saída: desemprego de longa duração, trabalho informal e sem direitos ou trabalho precário em que se aceita trabalhar a qualquer preço, abdicando dos mais elementares direitos, liberdades e garantias por força das leis do mercado. Tudo se compra e tudo se vende.

Muitos outros exemplos de discriminação, fruto de políticas que estão na base da destruição de serviços públicos, na retirada progressiva de direitos, na anulação das mais profundas conquistas que Abril abriu, encontram eco na nossa terra e têm rosto de mulher.

O caso da cortiça e do calçado, no distrito de Aveiro, em que as mulheres, pelo simples facto de serem mulheres, ganham, em média, menos 100 euros, para trabalho igual. Claro que, esta diferenciação resulta de uma lógica mais abrangente. Dizia Clara Zetkin, dirigente comunista e a responsável pela existência do Dia Internacional da Mulher, “Os capitalistas apostam nos seguintes factores, a mulher trabalhadora deve ser paga o mais pobremente possível e a competitividade do trabalho feminino deve ser utilizada para baixar os salários dos homens trabalhadores o mais possível. “

As mulheres trabalhadoras foram e são vítimas das mais aviltantes discriminações laborais em matéria salarial: as mulheres ganham, em média, menos 25% do que os homens para trabalho igual. Em cargos de direcção essa diferença chega a atingir os 30%, os direitos de maternidade são sistematicamente desrespeitados pelas entidades empregadoras sem que estas sejam devidamente penalizadas pelas entidades competentes, hoje, o índice de desemprego em Portugal é o mais elevado dos últimos 20 anos, afectando especialmente as mulheres e as jovens.

O caminho que as opções políticas têm seguido é de retrocesso social. Nós, mulheres, somos uma força viva e activa da sociedade e apenas quando os nossos direitos forem uma realidade, assim o serão os direitos dos demais. Dia 30 de Maio, dia da Greve Geral, paremos também. Pela igualdade. Pela justiça. As mulheres, lutando contra as injustiças de que são alvo, estão também em solidariedade e em luta com todos, por uma mudança efectiva de políticas: contra a precariedade laboral, contra as injustiças sociais, por uma vida melhor.

 

Lúcia Gomes

Eleita municipal pela Coligação Democrática Unitária