Lúcia GomesÉ uma polémica que tem vindo a dividir as nossas populações: a abertura dos hipermercados ao domingo.

Em favor desta abertura, ouvimos muitas vezes que “dá mais jeito”, “é o único dia que podemos e temos tempo” ou mesmo que “irá criar postos de trabalho”.

Pensemos, pois, um pouco, sobre cada um deles. E já pelos dois primeiros: “dá mais jeito “ e “é o único dia em que podemos e temos tempo”. É verdade. Cada vez as pessoas trabalham mais, deixando muito pouco tempo disponível para as tarefas domésticas. Mas também é verdade, que quando saem ao domingo, normalmente vão as famílias, dão um passeio e aproveitam para fazer as compras. Então e os trabalhadores, na sua maioria mulheres, não terão eles direito a estar com a família ao domingo? Com os filhos? Direito a passear, a brincar, a estar com os irmãos, com os tios, os pais, fazer o clássico almoço de domingo com a família?

A resposta é simples: abrindo o comércio ao domingo, não.

E criará postos de trabalho verdadeiramente? A ânsia dos grandes hipermercados, que até obrigaram os seus trabalhadores a recolherem assinaturas pela abertura ao domingo, não é, certamente, o bem-estar de quem trabalha, mas o lucro que podem tirar. E a verdade é que vão obrigar os seus trabalhadores a trabalhar mais horas, provavelmente pelo mesmo salário, graças às infinitas possibilidades abertas pelo Código do Trabalho do PS que permite o agravamento brutal da exploração. Aliás, foi precisamente o sector das grandes superfícies comerciais que quis implantar as 60 horas semanais, apenas impedido pela luta dos trabalhadores e do seu sindicato.

Ora, a partir de agora caberá às Câmaras Municipais a decisão sobre esta matéria. A CDU questionou o executivo camarário que, pelos intervalos da chuva, dizendo, sem dizer, deixou antever que a decisão será favorável à abertura das superfícies comerciais.


Não terão então estes trabalhadores direito a estar com as suas famílias ao domingo? Direito ao repouso e lazer previstos na Constituição Portuguesa (que agora o PSD e o CDS pretendem rasgar)?

Alguns sectores já lutam pela dignidade e humanismo, pelo direito a uma vida com direitos destas pessoas, que para muitos dos seus patrões são máquinas. Decorre já mesmo uma petição europeia, que moveu mais de 18 000 pessoas, assinada por comunistas, como a Ilda Figueiredo, mas também pela Conferência Episcopal Portuguesa que afirma que “os lucros não deverão sobrepor-se aos valores familiares”, e por representantes do comércio tradicional.

Apenas a Suécia, a República Checa, Estónia, Letónia, Lituânia e Eslovénia – 6 países – têm o comércio aberto ao domingo. Não será este o tempo de humanismo para uma decisão camarária, que fará prevalecer o direito ao repouso, ao descanso, a estar com a família, o combate à exploração desenfreada das nossas mulheres trabalhadoras?

Afinal, ao domingo, até Nosso Senhor descansou!

Lúcia Gomes
Eleita Municipal da CDU