Seria importante que, nas grandes superfícies comerciais, para além do preço final, fosse facultado ao consumidor a informação do preço dos produtos agrícolas pago ao produtor, para que o consumidor ficasse a saber quem é que fica com a maior fatia do bolo, em termos de lucros.

Se entre o preço pago ao produtor e o preço que o consumidor final paga pelo mesmo produto, vai uma diferença abismal, os consumidores deviam ter o direito de saber a quem é que estão a dar a maior parte do valor que pagam pelo produto.

Ainda recentemente ouvíamos os pescadores da sardinha dizer que após o esgotar da quota de pesca deste peixe, só tinham como alternativa a pesca da cavala ou a do carapau, mas que em ambos os casos a venda desses pescados em lota não compensava minimamente pois rondava os 20 cêntimos por quilograma. O preço nas grandes superfícies comerciais destas duas espécies piscícolas chega a ser vinte vezes superior ao do preço em lota!   

Nesta matéria, o que os ecologistas de “Os Verdes” pretendiam, era tão só, permitir que os consumidores possam fazer escolhas conscientes. E estas opções conscientes, só se tornam objectivamente possíveis, se o consumidor estiver na posse de todas as informações e se conhecer todas as regras do jogo, e do jogo todo, ou seja, desde o preço pago ao produtor até ao preço que o consumidor acaba por pagar nas caixas das grandes superfícies.

Seria, pois, fundamental permitir que os consumidores, querendo, pudessem assistir ao filme todo e não apenas ao seu final, que normalmente só tem um final feliz, para os agentes intermediários.

“Os Verdes” acham que em nome da transparência do mercado, seria imperioso que os consumidores tivessem a possibilidade de saber quem são os verdadeiros artistas deste filme. Um filme que bem podia chamar-se “Os mistérios do Mercado”, e não sendo um filme de ficção, qualquer semelhança com a realidade, não seria, infelizmente, pura coincidência.

A tendência que se tem vindo a verificar nas últimas décadas, de abertura dos mercados mundiais, tem provocado uma desvalorização generalizada dos preços dos alimentos na produção, que, por sua vez, tem vindo a provocar uma enorme degradação efetiva dos rendimentos dos agricultores e pescadores.

Refira-se como mero tipo de exemplo os dados do INE, em Portugal, entre 1995 e 2005, o índice de preços dos produtos agrícolas na produção, registou apenas um aumento de 6,3%, enquanto a inflação acumulada no mesmo período, atingiu os 29,3%.

É visível o desequilíbrio entre os vários intervenientes no percurso dos produtos alimentares, da produção até ao consumido final. Assim como é visível, que o produtor, sobretudo o pequeno produtor, surge sempre como o elo mais fraco desta cadeia de tubarões.

Os produtores reclamam e quanto a nós justamente, que lhes sejam pagos preços justos pelos bens alimentares que produzem, preços que no mínimo lhes permitam fazer face aos fatores de produção, os consumidores reclamam, também legitimamente, os elevados preços que têm de pagar para ter acesso a esses bens.

Ora, se o produtor recebe pouco e o consumidor paga muito, quem é que fica com a maior fatia? Só podem ser os agentes intermediários, que obtêm, nesta cadeia, margens de lucro que tornam todo o processo injusto e inaceitável… a margem da ganância, como alguns já lhe chamam. E depois ainda têm o desplante de passarem as suas sedes sociais para a Holanda, com o beneplácito daqueles que nos governam, para assim pagarem menos impostos sobre as fortunas que ano após ano nos vão saqueando.

Então se assim é, não seria justo atribuir o direito ao consumidor de ser informado sobre o preço que as grandes superfícies pagam ao produtor, criando assim condições para que os consumos pudessem ser mais eco conscientes e mais sócio conscientes?

É que ainda por cima, não se tratava de uma medida contra ninguém, nem contra o mercado, nem contra a iniciativa privada, mas a favor da transparência do mercado e a pensar nos direitos dos consumidores, face aos novos formatos que, as compras dos produtos alimentares foram ganhando, no modelo social dos nossos dias.

Pena é que nem o PS, nem o PSD e nem o CDS/PP, aparentemente por causa do “Mercado”, assim tenham entendido. E nós sabemos porquê!

 

Saudações ecologistas

 

 

Antero Resende