Apesar da recente divulgação nos diversos meios de comunicação social da existência de vestígios de glifosato na urina de pessoas em vários países da Europa, a verdade é que já em 2013 um estudo promovido pela “Friends of the Earth Europe” apresentou resultados semelhantes*. Neste estudo de 2013, nenhum dos voluntários que participou era português, daí a inexistência de dados referentes a Portugal. 

O referido estudo da “Friends of the Earth Europe” revelou a existência de vestígios de glifosato na urina de humanos oriundos de 18 países europeus (todas as nacionalidades representados no estudo).

O leitor poderá estar a supor que os voluntários eram das zonas rurais e/ou agricultores e por essa razão mais expostos a herbicidas ou outros produtos com glifosato. Porém essa suposição é infundada, dado que todos os voluntários habitavam em cidades e durante todo o período do estudo (março a maio de 2013) não manusearam ou tiveram qualquer contacto com produtos que contivessem glifosato. O que torna os resultados deste estudo ainda mais alarmantes.

Na altura (2013) o porta-voz da “Friends of the Earth Europe” disse:

“A maioria das pessoas vai ficar preocupada quando descobrir que podem ter o herbicida nos seus corpos. Efetuamos testes em pessoas que vivem em cidades de 18 países da Europa e encontrou-se vestígios em todos os países. Estes resultados sugerem que estamos a ser expostos a glifosato no nosso quotidiano, mas não sabemos de onde ele vem, quão disseminado é no ambiente, ou o que está a fazer à nossa saúde.

A organização “Friends of the Earth Europe” convidou a União Europeia a investigar com urgência como chegou o glifosato ao organismo das pessoas, para aumentar os níveis de monitorização do ambiente, dos alimentos e da água e para introduzir restrições imediatas ao uso deste herbicida – não obteve grandes resultados. A inércia da absurdamente enorme e ridiculamente burocrática máquina europeia não respondeu.

Este ato é “coisa” típica da “máquina europeia” sempre que se trata de proteger interesses instalados. Não podemos ignorar que o maior produtor mundial de glifosato é a Monsanto que vende este produto sob a marca “Roundup”. Além disso, tem-se verificado o aumento do recurso a herbicidas com glifosato derivado às culturas geneticamente modificadas, que são mais resistentes a herbicidas e por isso suportam maiores doses. Sublinho que a Monsanto é, também, das maiores produtoras de sementes geneticamente modificadas. 

Em 2013, aquando da denúncia da “Friends of the Earth Europe”, estavam à espera de ser aprovadas pela União Europeia catorze novas culturas geneticamente modificadas destinadas a ser cultivadas com recurso a glifosato. A aprovação destas culturas representaria milhões para as produtoras de sementes geneticamente modificadas e para as produtoras de herbicidas com glifosato, que na generalidade das vezes são as mesmas. 

Passados três anos do estudo da “Friends of Earth Europe”, a “Plataforma Transgénicos Fora” realizou um estudo idêntico em Portugal, tendo obtido resultados ainda mais alarmantes. Pois os resultados apontam que que os portugueses, participantes no estudo, têm níveis elevados de herbicida cancerígeno no sangue, 20 vezes mais concentrações de glifosato que os suíços e os alemães.

Desengane-se quem pensa que está livre do glifosato só porque não vive numa região agrícola ou de agricultura que recorre a sementes geneticamente modificadas, pois apesar do referido estudo evidenciar que até os cidadãos que habitam em cidades estão expostos, estes produtos são comummente utilizados em jardins, e até por diversas Câmaras Municipais como a de Santa Maria da Feira. 

Provavelmente já toda a cadeia alimentar está contaminada à semelhança de diversos cursos de água. A alternativa passará sempre pela recusa deste tipo de produtos em detrimento de técnicas mais sustentáveis e de produtos menos agressivos para o Meio Ambiente.

 

Juntos dizemos não ao glifosato!

 

Fiães, 4 de maio de 2015

Filipe T. Moreira

Eleito da CDU na Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira