A discussão relativamente à “atual” celeuma de Milheirós de Poiares merce ser abordada com todos os factos, tornando-se essencial trazer à luz os mesmos.

Em primeiro, importa esclarecer que compreendemos os anseios e o eventual sentimento de abandono que a população de Milheirós de Poiares possa sentir e que parece estar na origem do empenho de centenas de milheiroenses em tentar levar a que o rumo da freguesia seja a integração no município de São João da Madeira. Importa também, afirmar que sempre estaremos ao lado das populações de todas as freguesias na luta por melhores condições de vida, como sempre temos estado.

A nossa posição neste ponto é bastante clara e coerente. Existe uma Lei que enquadra situações como esta, onde se pode ler que para a transição de freguesias entre municípios é necessária a concordância de ambos, o que não é o caso. Ou seja, não havendo concordância o assunto expira de imediato, ou pelo menos, deveria, caso não houvesse interesses secundários aos destinos da freguesia por detrás de tal celeuma. Ora veja-se…

Os primeiros signatários e agentes mobilizadores da petição para a passagem de Milheirós para São João da Madeira são experientes políticos, membros de partidos e com responsabilidades na Junta de Freguesia, que evidentemente têm acesso privilegiado a estas informações. Porém, decidiram, mesmo assim, encetar um abaixo-assinado para levar o assunto a discussão na Assembleia da República sem sequer o apresentar a discussão numa qualquer reunião de Câmara ou (principalmente) numa Assembleia Municipal. Assembleia Municipal onde o senhor Presidente de Junta tem assento por inerência e que nos últimos três anos (longevidade do atual mandato) nunca expressou estas intenções, ou outras, relativas à freguesia a que preside os desígnios, nem mesmo aquando das votações dos sucessivos orçamentos anuais a que este ou representantes deste sempre votaram favoravelmente.

Avançando, esta celeuma que tem surgido de forma repetida a cerca de um ano de eleições autárquicas, levando-nos a pensar que de duas uma, ou o movimento pretende pressionar o executivo feirense para que este invista mais na freguesia (o que não parece que tenha surtido grandes efeitos) ou pretende instrumentalizar as populações de forma a leva-las a um voto favorável aos seus anseios.

Tudo leva a crer que a origem deste movimento (tanto em Milheirós como em São João da Madeira) tem como centro nefrálgico a sobrevivência política de alguns agentes que têm outros interesses que não o bem dos milheiroenses, aplicando-se o mesmo aos partidos que apresentam intenções de votos distintas conforme o local onde se encontram. Veja-se, a coligação PSD/CDS e PS que apresentaram votos favoráveis à integração da freguesia em São João da Madeira na C.M. do município. Já na Assembleia Municipal da Feira, PSD e CDS foram contra e PS absteve-se (com exceção do presidente de junta de Milheirós). Na Câmara da Feira o PSD foi contra a saída de Milheirós e o PS absteve-se novamente. Já na Assembleia de Freguesia tanto o PS como o PSD votaram a passagem da freguesia para São João da Madeira. Porém quando se sujeitaram ao voto em 2013, nenhuma destas forças tinha patente no seu programa esta intenção. Vota-se, portanto, conforme o vento de feição, sem qualquer reflexão do que realmente é importante, o interesse das populações e o futuro da freguesia.

No meio de todas estas movimentações pouco luminosas, para além do referido, começa-se a afigurar a conclusão de que estas visam também desviar as atenções dos reais problemas e as responsabilidades destes partidos nos desígnios das populações. Pois por poucas vezes explanaram as reais vantagens para a população de tais atos.

Resumidamente, ao se discutir a transferência de Milheirós de Poiares para São João da Madeira, está-se a discutir especulações, uma vez que não há o referido acordo entre os municípios. Isto claro, a não ser que deputados à Assembleia da República eleitos pelo distrito de Aveiro não estejam a ponderar apresentar uma eventual alteração à Lei em vigor de forma a simplificar este tipo de “rumos”. Mas isso, pelo menos até acontecer, é também especulação (ainda que com fundamento) e talvez até devaneio de alguém que se estará a esquecer das suas responsabilidades enquanto deputado.

Interessante será verificar o que irão todos os partidos imprimir nos seus prospetos daqui a poucos meses!

 

19 de janeiro de 2017

Filipe Moreira

Eleito da CDU na Assembleia Municipal de Stª Mª da Feira