Penso ser do conhecimento da generalidade dos cidadãos que as árvores e as espécies arbustivas purificam e ajudam a manter o ar limpo, através da assimilação do dióxido de carbono, gás perigoso para muitos dos seres vivos. A comprovar este facto indesmentível existem estudos que apontam para que um milhar de árvores consigam neutralizar cerca de seis toneladas de CO2 por ano. Esta absorção que se assemelha a um processo de inversão acontece para que as árvores produzam oxigénio fazendo-o através do dióxido de carbono, num processo que se intitula por fotossíntese e que se estuda e aprende desde os bancos da escola. Para lá de outros benefícios é daí que decorre a importância da manutenção de áreas florestadas ou arborizadas mesmo em meios urbanos densamente habitados.

Uma árvore independentemente das suas dimensões, no seu estado natural, suporta uma grande diversidade biológica, constituindo uma verdadeira ilha no ambiente que a circunda. Para muitos de nós elas estão fortemente enraizadas na nossa memória, já que sempre as vimos naquele lugar e, com o seu porte altivo, sobrevivem-nos tantas vezes.

São assim as árvores, que para além da sua beleza exuberante, de crescerem muito, de em muitos casos viverem milhares de anos, de conseguirem morrer e renascer resistindo inclusive a incêndios, têm, em muitos casos, a possibilidade de se clonarem através de uma simples vara de si mesmas, coisa que os humanos só nos dias de hoje alcançaram. Sim, são efetivamente fantásticas, são seres vivos tão fantásticos que nem damos por elas e pelos atropelos e crimes de que são alvo em Santa Maria da Feira.

A nível ambiental, o declínio florestal em Santa Maria da Feira acontece a olhos vistos, levando por arrasto à diminuição da biodiversidade, pondo-se assim algumas espécies em perigo e levando a que outras desapareçam por completo do nosso território. Cerca de 85% da floresta de Portugal é propriedade privada, e apenas 3% pertence ao Estado Português, os restantes 12% são baldios, e pertença de comunidades locais. Comummente somos sensíveis aos atentados contra os animais mas mostramo-nos insensíveis quando eles são perpetrados contras as árvores. E têm sido constantes os atropelos à lei por parte de entidades e cidadãos, o que decorre também da forma simplista como a sociedade olha para o ambiente em todas as suas componentes.

Também simplista é a capacidade argumentativa das autoridades feirenses no que diz respeito a motivos para o abate de árvores e, termos como -"As raízes das árvores estavam a destruir os passeios, ou a colocar em risco a segurança de um muro, ou que ameaçava ruir, ou que interferiam ou colocavam em risco a circulação automóvel", para nós nenhum argumento nos convence, nomeadamente em tempo de eleições, onde os presidentes das juntas sofrem mais pressões por parte dos moradores, alegando que as folhas das árvores estão a sujar as casas ou as ruas, que podem provocar incêndios ou que as raízes estão a destruir os muros ou os passeios, como ainda recentemente no crime ambiental perpetrado junto da capela de Santo André na cidade da Feira.

Enquanto isso, municípios como o do Porto promovem campanhas de distribuição de sementes e árvores autóctones sob o epiteto de “Se tem um jardim, temos uma árvore para si”, este ano com cerca de 2.000 árvores e arbustos autóctones para distribuir aos cidadãos. Na mesma linha de atuação a associação ambientalista ZERO num dos sete desafios pela sustentabilidade a nível local, anunciados recentemente, exorta os candidatos agora que estamos a cinco meses das eleições autárquicas, a promover a biodiversidade dentro das cidades e vilas, construindo desde charcos, a hotéis para insetos e outros polinizadores, caixas-ninho para as aves, etc.

Por cá e apesar da crescente consciência ambiental da população feirense continua-se a assistir a justificações para atos criminosos de lesa património ambiental que mais não são do que canções para adormecer. Prova disso mesmo para lá das denúncias de abates que fizemos recentemente ficam os registos de imagens que comprovam as podas benfazejas de dois choupos monumentais, no Largo do Rossio na cidade da Feira, que apodrecem em pé tem mais de três anos, colocando em risco a segurança das pessoas que ali circulam ou divertem em eventos, quiçá realizados pela ilustríssima câmara. Outro caso de intervenção igualmente aberrante foi a que foi feita junto de um correr de cedros do Buçaco, que inicialmente margeavam a Linha do Vouga na freguesia de Fornos, sendo primitivamente uma sebe, como deixaram de ser podados tomaram o porte de árvores ao fim de algumas dezenas de anos acabando por interferir e colocar em risco peões e veículos. Aqui a intervenção que se justificava era o abate e substituição por um talude ajardinado, mas não, deixaram os troncos ao alto sendo que, hoje mortos, se assemelham a fantasmas arbóreos diríamos que, foram colocados debaixo do sono da morte.

A mensagem que a CDU quer passar aos autarcas e aos cidadãos é de que os votos não valem nada quando comparados com o respeito pelo ambiente. Nada justifica interromper a jornada da vida das árvores, esses seres magníficos cuja longevidade engana a morte e brinca com o tempo.

Num cenário de alterações climáticas, todos temos um papel a desempenhar, papel esse cada vez mais importante na procura da sustentabilidade, mobiliza-te.

 

Antero Resende