Perde-se no tempo as referências históricas à terra de Santa Maria e à Vila da Feira sendo que, muitas das freguesias bem como a própria vila são coevas da fundação da nacionalidade. Regista o Foral dado a 10 de fevereiro de 1514 por D. Manuel I à Vila da Feira, a existência de referências a Milheirós de Poiares logo a seguir a Pindelo, hoje freguesia do município de Oliveira de Azeméis e antes de Gaiate, nos dias de hoje, um lugar da própria freguesia de Milheirós. A criação de Milheirós de Poiares radica em mais de 500 anos de história, história essa sempre vivida e comungada num contexto de unidade de um município, o de Santa Maria da Feira.

A configuração territorial do município de Santa Maria da Feira permanece inalterada desde os Censos de 1930, no VII recenseamento geral da população, não se verificando desde então, qualquer justificação, de natureza histórica, cultural, geográfica, económico-financeira ou outra que tenha suportado ou sustentado a amputação do formato do seu território.

Não deixa, no entanto, de ser caso único que o tema em apreço surja, não só na Feira como um pouco por todo o país invariavelmente, na proximidade de atos eleitorais, pelo que a instrumentalização política surge-nos logo no pensamento.

Neste caso particular da Vila de Milheirós de Poiares, freguesia pertencente ao município de Santa Maria da Feira, foi a nefasta “Lei Relvas” que fez despertar do adormecimento a pretensão da vila de Milheirós de Poiares em saltar das fronteiras do concelho de Santa Maria da Feira para o lado do vizinho S. João da Madeira, município de freguesia única.

Num país de desequilíbrios onde o que urge é proceder a uma verdadeira regionalização esta é a cidade município, um verdadeiro “principado de Mónaco” na região centro Norte do país que com o seu PIB nitidamente superior aos municípios circundantes gera este interesse inusitado mas não de todo impossível de entender. Procura-se aqui uma resposta aos anseios económicos de Milheirós de Poiares. Então, e os interesses das restantes partes interessadas neste processo. Foi ouvida a população sanjoanense no sentido de se consumar esta desvinculação? E a restante população do município feirense não é aqui parte interessada?

Não somos favoráveis à integração de Milheirós de Poiares em S. J. da Madeira nos moldes em que a estão a pretender levar a efeito, Isto é, sem a consulta e posterior posição favorável das Assembleias dos dois municípios mais a da freguesia de Milheirós. No meio deste folhetim que já tem novos episódios prometidos no futuro, não conseguimos vislumbrar qual é a ideologia política do PSD que num município tem uma posição no outro tem uma oposta 180º. Igualmente não entendemos a posição do P. Socialista feirense que apesar de ser o principal apoiante e sustentáculo no movimento na freguesia em questão, quanto chamado a tomar posição nos órgãos autárquicos feirenses optou por se abster numa estratégia ou incoerência politica que parece pretender agradar a deus e ao diabo. Fala-se, inclusive, no interesse do Partido Socialista sanjoanense, em arregimentar por este modo umas largas centenas de votantes indefectíveis que seriam cruciais para tomar as rédeas autárquicas em S. J. da Madeira. 

A consumar-se, esta desvinculação de uma freguesia à revelia dos órgãos autárquicos está-se a abrir um precedente que levara ao retalhar do município da Feira pois são latentes outros movimentos com idênticas filosofias que levarão à intenção de saída das freguesias de Nogueira da Regedoura e Sampaio de Oleiros para o município de Espinho, de Arrifana para igualmente para São João da Madeira, etc. Seria em nossa opinião um despertar epidémico que levaria a um retalhar e remendar do mapa nacional para o qual não conseguimos vislumbrar um fim, e, não serve os interesses das populações.

Antero Resende (Dirigente de “Os Verdes” e Candidato à Câmara Municipal de Stª Mª da Feira da CDU)