A mobilidade é, nos dias que hoje., uma das questões mais importantes para a qualidade de vida das populações. Resolver os problemas das acessibilidades e dos seus meios implica, regra geral, meios vultuosos e soluções complexas e integradas que devem ser racional e devidamente ponderadas.

Vem tudo isto a propósito de uma recente conferência, organizada pela Associação Nacional dos Municípios Portugueses no Europarque, precisamente sobre aquele tema, num momento e num concelho que se debate há muito com sérios constrangimentos nas condições de circulação e acessibilidades: rede viária em muito mau estado e nos seus eixos fundamentais super-congestionada; deficiente cobertura do serviço de transportes públicos dentro e para fora do município, etc.etc., problemas que todos conhecemos e criticamos.

Mas de repente, qual varinha mágica, eis que surge primeiro na imprensa e depois na citada conferência o projecto do prolongamento das obras do Metro até às Terras da Santa Maria, mais concretamente até ao Europarque, num futuro não especificado e não muito distante (!) 

Sonhar é fácil! Só que a realidade é bem mais dura e os números aí estão para a comprovar. Foi o engenheiro Oliveira Marques, presidente da comissão executiva do Metro do Porto que ali os explicitou e que, aliás, podem ser confirmados na página da net da ANMP – 2.406 milhões de euros investidos em cerca de 5 anos, com todas as peripécias conhecidas, para construir os actuais quase 60 quilómetros de linha, mas que melhoraram inegavelmente as condições de mobilidade naqueles troços. Já sobre o arranque e conclusão do que falta foi bem mais evasivo. Pudera! Trofa? Gondomar? Verbas?

Prazos? São de facto muitas as perguntas mas que ficaram e continuam sem resposta.

A que nem mesmo o QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional, a nova designação para o Quadro Comunitário de Apoio, com o seu carácter duplamente centralizado e governamentalizado, limitado à estreiteza dos gabinetes e desfasado das populações e dos seus representantes eleitos, estabelece qualquer garantia de execução, uma vez que os 2,7 mil milhões de euros, orçamentados para toda a região norte ( Santa Maria da Feira incluído ) serão escassos  para um território tão vasto e em boa parte tão carenciado.

O executivo municipal já nos habituou à criação de miragens e ilusões de toda a espécie de que a falta da conclusão do saneamento é o mais acabado exemplo. Mas apresentar agora este projecto megalómano só servirá para escamotear as suas responsabilidades na ausência de uma verdadeira política de transportes. E que diversas iniciativas e debates já realizados, sem se tomarem as simples medidas aí propostas de um serviço de carreiras a mais freguesias, puseram a nu. Na verdade um concelho densamente povoado, com 3 cidades e amplas zonas urbanas, continua sem um centro coordenador de transportes e em que os próprios meios de acesso e horários disponíveis, em vez de serem melhorados e requalificados – caso do Vouginha – são cada vez mais reduzidos e desarticulados numa lenta e, ao que tudo indica, propositada agonia. Chega de fantasias. A criação de condições para uma maior mobilidade no concelho dependerá de muitos aspectos. Mas ao menos que se faça com verdade e realismo.

 

StªMª da Feira, 7 de Abril de 2007

 

Luís Quintino

 

Membro da DORAV do P.C.P.