Prof. Manuela SilvaUma opção de vida determinou a sua morte: ser militante e dirigente do PCP.

A 4 de Julho de 2009, o PCP realizou mais uma sentida romagem à campa do Dr. Ferreira Soares, no momento em que se completaram 67 anos sobre o seu vil assassinato, em Nogueira da Regedoura, pela polícia política do regime fascista. Este homenagem contou com a presença de Margarida Tengarrinha, uma mulher notável pela sua intervenção política, como militante e dirigente do PCP, pelo contributo inestimável que tem dado à cultura e à arte do nosso país, através da sua importante e vasta obra artística como pintora. A sua presença foi muito significativa, não só por tudo o que ela representa de resistência e luta contra o fascismo, mas também porque, como viúva do pintor José Dias Coelho, ela própria sentiu de uma forma especial toda a brutalidade do fascismo contra quem se lhe opusesse, até ao ceifar da vida de alguém, cujo “pecado” maior era ser comunista. Foi esse também o “pecado” maior do Dr. Ferreira Soares. Foi isso o motivo primeiro para o seu assassinato pelos esbirros do fascismo.

 

Muito se pode dizer do Dr. Ferreira Soares, carinhosamente chamado pelo povo de “Dr. Prata”, ou “Médico dos Pobres”, mas o fundamental é de que ele viveu e morreu de acordo com os seus ideais.

Para os comunistas, este é sempre um momento muito importante, como importante é o legado ideológico, político e cultural deste verdadeiro herói da resistência, porque se evoca o militante e dirigente comunista empenhado, profundamente ligado ao povo e aos seus anseios, que nunca deixou de defender, num violento contexto de repressão e privação de liberdade, mas também se homenageia o profissional dedicado, o defensor de valores humanistas, o intelectual, cuja acção e exemplo permanecem como uma referência que tem de ser preservada.

 

Ferreira Soares, a sua vida, a sua obra, o seu exemplo representam um património inestimável do partido comunista português, que ao longo dos 48 anos do fascismo resistiu, organizou a resistência, lutou e luta por uma democracia plena para o povo português. Ferreira Soares ajudou a escrever não só uma das páginas heróicas da história do PCP, mas também uma das páginas heróicas da história de Nogueira da Regedoura, do concelho de Santa Maria da Feira, e do próprio país. Por isso as homenagens promovidas naquele dia pela Junta de Freguesia de Nogueira da Regedoura pecaram pelo atraso. É justo homenagear Ferreira Soares, é justo oficialmente assumir o seu exemplo, a sua vida, a sua obra como património de todos os feirenses, mas tal evocação não pode jamais distorcer, ou ocultar, a verdade maior da sua existência: Ferreira Soares, o “Dr. Prata”, o profissional abnegado, o homem de letras, o humanista tomou, desde muito jovem, uma opção de vida que determinou a sua morte, era militante e foi dirigente do PCP, por isso teve de viver em semi-clandestinidade, por isso foi apoiado pelo povo da sua terra que o protegia das incursões da polícia fascista, por isso foi assassinado.

O PCP, ao longo dos anos, tem promovido iniciativas diversas de comemoração desta data e participado noutras da responsabilidade de outras entidades. Entre elas, destaco as que foram realizadas em escolas do concelho para os jovens, por entender que esta passagem de testemunho é de uma enorme importância para a formação de jovens feirenses civicamente responsáveis. Vamos continuar a dar testemunho da vida, dos ideais e da postura exemplar do Dr. Ferreira Soares, importantíssimo actor da história colectiva de um povo que foi capaz de sonhar e viver a liberdade e que há-de ser capaz de retomar os caminhos que Abril abriu e que homens como Ferreira Soares ajudaram a construir.

Manuela Silva, professora