Filipe Moreira

Esta é a minha primeira intervenção no jornal “O Activo” e por tal não posso deixar de enaltecer o trabalho realizado por este jornal local que vem sendo editado há já 33 anos, e que é, sem dúvida alguma, um projecto que deveria ser seguido e copiado por muitas outras freguesias pois é a forma ideal de, neste caso específico, fazer chegar Fiães aos fianenses.

Nesta minha primeira intervenção não irei levar Fiães aos fianenses, mas irei com toda a certeza levar um homem, um herói que foi em tempos conhecido pelo povo como o “doutor dos pobres”, de seu nome António Carlos de Carvalho Ferreira Soares. O Dr. Ferreira Soares era um médico nascido em Viana do Castelo, mas que por adopção se veio a tornar um habitante de uma freguesia do nosso concelho (Nogueira da Regedoura) numa altura em que vivia na clandestinidade por ser membro activo do Partido Comunista.

 

No passado dia 4 de Julho assinalou-se em Nogueira da Regedoura o 67º aniversário do falecimento do “Dr. Prata” como era também conhecido pelo povo, sendo este uma vez mais e muito bem homenageado pelos seus camaradas comunistas a quem se juntaram outros democratas e familiares. Homenagem esta que contou com a intervenção entre outras de uma camarada resistente anti-fascista, Margarida Tengarrinha.

Muito se pode referir sobre este homem desde o seu profundo sentido humanista, o seu profissionalismo dedicado especialmente aos pobres, a intelectualidade assim como a obra deixada tanto na área das letras como na criação de associações ainda hoje existentes, mas o que realmente determinou a sua morte foi o facto de ser militante e dirigente do PCP. O Dr. Ferreira Soares foi vilmente assassinado no dia 4 de Julho de 1942 pela PVDE (para os jovens mais distraídos nesta coisa de história PVDE significa Polícia de Vigilância e Defesa do Estado que mais tarde viria a dar lugar à PIDE) que o atraiu para uma cilada no mínimo covarde, usando a figura de uma falsa doente que se apresentou acompanhada por uma figura masculina no consultório que o médico mantinha em casa.

 

Foram 14 as balas de pistola-metralhadora que o atingiram à queima-roupa e que lhe ceifaram a vida. 

Optei para esta minha primeira intervenção no jornal “O Activo” fazer esta homenagem porque é com muito despeito que vejo os jovens e não só jovens procurarem heróis onde de facto eles não existem e apelidando de heróis qualquer individuo que participe num qualquer “programazeco” rasca estilo “Big Brother” ou numa qualquer série de baixa qualidade transmitida na nossa querida televisão generalista como é o caso mais mediático “Morangos com Açúcar”, que de facto provado não tem trazido em ponto algum evolução para a nossa sociedade. Se queremos de facto encontrar heróis não precisamos de ir muito longe; fiquemos pela nossa terra pois existem muitos casos de verdadeiro heroísmo como o Dr. Ferreira Soares que estão mais ou menos esquecidos. Poderia aqui mencionar uma boa meia dúzia deles e talvez o faça noutras oportunidades.

Para terminar quero agradecer pelo passado, pelo presente e pelo futuro a todos os homens e mulheres que no passado lutaram para que eu hoje possa escrever e acima de tudo para que possa pensar livremente, o meu mais sincero muito obrigado...

Filipe Moreira