Filipe Moreira

Acordei hoje para a dura realidade de alguma da campanha eleitoral portuguesa. Em causa: o CDS-PP supera-se, excede os piores receios, ofende qualquer expectativa, sem vergonha ou contracção. O CDS-PP, na presunção de que a pretexto daquilo a que chamamos democracia, legitima as aberrações dos preconceitos das políticas e dos ideais de alguns partidos.

Arrifana, concelho de Santa Maria da Feira, o incontornável e imenso cartaz azul e branco que diz “acha bem pagar o rendimento mínimo a quem não quer trabalhar?”. Se a frase fosse dita à mesa de um café, ainda teria a oportunidade de argumentar. Mas com um cartaz não se pode discutir. E isso é baixeza. Isso é pobreza intelectual.

Assim se legitimam as revoltas infundamentadas; atropelam-se os direitos básicos de quem nada tem; na perigosidade não perceber o alcance das palavras, na ausência de escrúpulos, numa campanha feita de lugares-comuns.

Percebemos que afinal, quem não quer trabalhar são as máquinas partidárias como o CDS-PP, mostrando que é tão fácil fazer propaganda política. Preguiçoso, é o CDS-PP, nesta miséria publicitária de registar num cartaz a ignorância total sobre os processos de atribuição do Rendimento Social de Inserção, dos planos de inserção a que estão sujeitos os beneficiários desse rendimento e cujo cumprimento é obrigatório.

O rendimento social de inserção, para muitos, o parente pobre das prestações sociais, é o único direito que os cidadãos têm de se reinserir numa sociedade muitas vezes culpada pela sua exclusão. Cabe ao Estado garantir que este direito seja plenamente atribuído, plenamente realizado, em nome da cidadania, da dignidade e da igualdade. Indecoroso é assumir que o rendimento social de inserção não é sinónimo de direito mas de preguiça.

Desonesto é o CDS-PP, que ainda não entendeu muito bem o alcance de uma crise económica que, por exemplo neste concelho onde o cartaz exuberantemente se mostra, tem tido como consequência o desemprego desqualificado de milhares de pessoas, de centenas de famílias, sem acesso a quaisquer outros recursos.

Ocioso é o CDS-PP, que não fez o mínimo esforço para poupar os técnicos de acção social que decidem sobre a atribuição deste benefício: um atestado de incompetência, grande e vistoso, despudorado e ofensivo.

Pergunto pois ao Sr. Paulo Portas, candidato às legislativas pelo distrito de Aveiro (???) – o distrito onde o desemprego mais aumentou entre 2008 e 2009 – e cabeça de lista à Assembleia Municipal de Arouca (???), o que fez ele no seu governo e no seu mandato de deputado para que ninguém precisasse de recorrer a estas prestações sociais.

Às vezes sinto o embaraço de viver neste país, cujos brandos costumes, por vezes, mais são sintomas da oligofrenia (imbecilidade) inconsequente de alguns dirigentes e máquinas políticas a quem se concede demasiado tempo de antena e espaço público a mais, sem regulação e sem respeito pelo cidadão português.

Isabel Gomes
Candidata da CDU à Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira
Membro do Partido Ecologista Os Verdes