Lúcia GomesO Dia Internacional da Mulher foi proclamado por proposta da revolucionária alemã e dirigente comunista Clara Zetkin, em 26 de Agosto de 1910. O texto desta proclamação foi publicado três dias depois no jornal Die Gleichheit (A Igualdade). A decisão de criar um Dia Internacional da Mulher dirigido às trabalhadoras correspondeu à necessidade de dar um forte impulso à luta organizada das operárias, numa época em que a entrada massiva das mulheres no trabalho fabril e o desenvolvimento do movimento comunista conduziram à intensificação da luta das mulheres por melhores condições de trabalho, melhores salários e por direitos sociais e políticos.

A palavra de ordem da primeira comemoração tinha sido reiterada na conferência que proclamou o Dia Internacional da Mulher: «…o sufrágio universal, atribuído a todas as maiores de idade e que não dependa da propriedade, nem do imposto, nem do grau de cultura, nem de outras condições que excluam os membros da classe operária do gozo deste direito».

Comemorado a 19 de Março de 1911, o primeiro Dia Internacional da Mulher mobilizou mais de um milhão de mulheres em cidades da Alemanha, Suíça, Áustria e Dinamarca. Alexandra Kollontai, também ela dirigente comunista, descreveu o acontecimento que ultrapassou todas as expectativas «... a Alemanha e a Áustria foram nesse dia um transbordante e agitado mar de mulheres... Esta foi certamente a primeira demonstração de militância das mulheres trabalhadoras… O primeiro Dia Internacional das Mulheres… sob a palavra de ordem “O direito de voto para as trabalhadoras» e “unir forças na luta pelo socialismo”».

Neste Centenário da proclamação do Dia Internacional da Mulher é importante demonstrar a sua estreita ligação histórica à luta das mulheres trabalhadoras pela sua emancipação política, económica e social. Uma jornada que desde a sua criação foi dinamizada pelo movimento revolucionário que a assumiu como um dia de luta das mulheres pelos seus direitos próprios, contra todas as formas de discriminação, um símbolo internacionalista e de solidariedade entre mulheres do mundo inteiro. Hoje, cem anos volvidos sobre a proclamação, persistem discriminações na vida, no trabalho, na sociedade de tantas mulheres, tantas trabalhadoras, tantas reformadas, tantas mães. No município feirense são já 9360 os desempregados, e elas, como sempre, são a maioria, representando 56,6%. Elas continuam a estar na linha da frente da precariedade e o seu salário ainda é, em média, menos 25% do que o dos homens. Elas continuam a não participar na vida política. Elas continuam a ser discriminadas e impedidas de exercer os seus direitos de maternidade.

O PCP tem feito, por todo o país, sessões sobre este dia, exortando todas as mulheres que se organizem na luta pelos seus direitos, pela emancipação social, tão justa e necessária, pelo progresso e igualdade, na lei e na vida. Nesta primeira década do século XXI, a actualidade do 8 de Março decorre não só da celebração de um património histórico de luta, simbolizado pelo desejo de justiça de gerações de mulheres exploradas, subjugadas e menorizadas, mas sobretudo porque esse percurso foi, e é, de luta colectiva e de classe, assumindo a luta das mulheres e das suas reivindicações específicas como factor de enriquecimento de uma luta comum, pela transformação social e pela construção do socialismo.

 

Lúcia Gomes
Comissão Concelhia do PCP