É um atentado à inteligência e à memória de todos, o que tentam pôr em prática, contrariando aquilo que tinham prometido ao Povo.

Durante vários anos, foi estratégia de sucessivos governos investir uma grande parte dos nossos recursos e dos fundos provenientes da União Europeia na construção de infra-estruturas rodoviárias, vulgares auto-estradas, isto porque era necessário criar acessibilidades às populações, diziam os governantes de então, abdicando claramente do investimento no aparelho produtivo, na agricultura e nas pescas, o que originou a situação actual em que estes sectores se encontram: uma industria débil, uma agricultura sem agricultura e pescas sem peixe, com responsáveis políticos pela actual crise a fingir que não o são, e agora que criaram o “monstro”, dizem que temos de retomar o caminho. E os burros somos nós!!!!!

Vejam bem, que para aniquilarem o “monstro”, agora até querem que passemos a pagar portagens nas Scuts do grande Porto, Norte Litoral e Costa de Prata. Este “monstro”  trouxe-lhes estados contínuos de amnésia, fazendo-os passar por momentos de insanidade mental, até já se esquecem que as populações precisam de acessibilidades para se deslocarem, nem que seja para os poucos postos de trabalho que ainda existem, uma espécie rara, que tudo têm feito para acabar com ela.

Por muito grande que o “monstro” seja, nada justifica esta medida, uma vez que irá trazer mais injustiça e dificuldades económicas para as populações e empresas da região, as quais já apresentam uma situação de dificuldades permanentes, e este conceito que pretendem introduzir, do utilizador/pagador, é característico do capitalismo e discriminatório na sua essência, já que as acessibilidades só o serão, para quem tiver meios que as possa pagar.

Esta tentativa de implementar a medida depara-se com uma contradição logo á partida, já  que, como demonstra um estudo de 2006, encomendado pelo Governo ás Estradas de Portugal, não existem estradas nacionais, que possam ser consideradas como alternativa às Scuts, até porque, as estradas nacionais que dizem ser alternativa, não cumprem os requisitos mínimos necessários; em determinados percursos acabaram mesmo por passar a estradas municipais, com passadeiras, rotundas, semáforos, circulação de transportes públicos, limites de velocidade a 50 km/h, e em alguns locais, chegando mesmo a passar pelo meio de populações, colocando em risco a segurança de quem por lá passa, ou será que em nome do “monstro” também é permitido esquecer a segurança das pessoas? E, aliás, estas Scuts, quando foram construídas, seriam para servir de alternativa às nacionais, uma vez que estas encontravam-se num estado de saturação e não conseguiam satisfazer as necessidades das populações e empresas. Como se pode compreender que agora queiram fazer o reverso da medalha?   

O nosso concelho não ficará alheio às implicações nefastas, em resultado da implementação desta medida, isto porque a A28 e a A17 constituem as principais vias de ligação do concelho quer a Aveiro, quer ao Porto/Vila Nova de Gaia, e a N1 e a N109 não serão capazes de satisfazer as necessidades da população e das empresas do concelho.

A Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, não tem claramente defendido os interesses do concelho nesta matéria, como aliás em muitas outras, chegando mesmo na pessoa do seu Presidente a defender a cobrança de portagens nestas Scuts, desde que sejam cobradas em todo o país. Por outro lado, os dirigentes do Partido Socialista do Concelho têm afirmado ser contra a cobrança destas portagens, mas na realidade nada têm feito para fazer o governo recuar na sua pretensão, quando deveriam estar ao lado das populações na contestação contra esta medida, chegando mesmo a dizer que onde se deviam pagar portagens era na Via do Infante (Algarve), o que demonstra claramente uma desorientação no que diz respeito ao que deve ser o papel do Estado, e criando caminho ao conflito regional, quando esta matéria também deve ser encarada do ponto de vista nacional. A única força política do concelho que tem contestado esta medida, e que tem estado permanentemente ao lado das populações e empresas é o PCP, com uma posição firme e determinada de combate a mais esta injustiça que nos tentam impôr como necessária, mas as populações com a sua força de argumentos e em conjunto com a Comissão de Utentes serão capazes de travar esta medida, e mandar o “monstro” para outras paragens.   

Nuno Vieira

Membro da Comissão Concelhia de Stª Mª da Feira