É bom não nos esquecermos de que, cá como no Terreiro do Paço, a cultura foi e é menorizada. São os tiques da direita que sempre teve uma visão da cultura segundo uma lógica do entretenimento. O “panem et circenses” do tempo dos romanos. 

Para a CDU, a cultura é o conjunto de padrões de comportamento, conhecimentos e costumes que fazem as distinções entre povos. Cultura é a reunião dos produtos e valores materiais e espirituais constituintes da identidade de um povo, no período da sua história. De forma lapidar está escrito num friso existente no Museu do Prado em Madrid: “ Na cultura tudo o que não é tradição é plágio”.

Ora a “Viagem Medieval” em Terras de Santa Maria, apelidada pelos seus organizadores como “o maior evento de recriação medieval da Europa” assume-se cada vez mais como uma imaginação histórica.  Aquilo que na sua génese teve o dedo sabedor do prof. Dr. Carlos Alberto Ferreira de Almeida, insigne homem da história, nomeadamente na evocação histórica, hoje acontece sem critério algum. Aquilo que inicialmente tinha como objetivo a envolvência da população na representação de quadros temáticos com conteúdos históricos, para assim se promover o gosto pela História de Portugal, acabou por descambar neste verdadeiro meeting do porco no espeto e da fêvera, que hoje indesmentivelmente é, desvirtuando-se toda a filosofia inicial. 
 
Para nós, a viagem é assumidamente uma banal cultura de massas, e, toda cultura produzida para a população em geral independentemente das diferenças sociais, corre o risco de virar “fast food cultural” com carateristicas de romaria, que foi o que acabou por acontecer a esta criação cultural. 
Achamos que verificada a reprodução de verdadeiros clones, que se verifica um pouco por todo o país, a Viagem só tem uma opção, que é regressar às origens despindo-se de toda a carga de vendilhões e se aponte nitidamente para um evento de qualidade fidedignamente histórica. Para a CDU o investimento em cultura será sempre bem-vindo, se possibilitar o desenvolvimento dos conhecimentos e das capacidades tais como as literárias, as artísticas, as filosóficas, as musicais, etc. Alguns desses atos estão no entanto contaminados de oportunismo político e questionamos a oportunidade e prioridade de alguns eventos quando sabemos das dificuldades económicas que o município atravessa. 

Em relação ao Imaginarius, para nós o maior evento nacional de artes de rua, só nos merece reparo, a política de contratos que é usada pelo pelouro da cultura. Nos últimos anos, muitas vezes parece transparecer que as opções tomadas são feitas por catálogo, sem qualquer pré visionamento dos espetáculos ou representações, o que posteriormente tem vindo a gerar dissabores e verdadeiras desilusões
Por outro lado para nós, o associativismo que faz intervenção cultural é de assaz importância, sendo que, o desrespeito por ele por parte da câmara é aviltante, pois estas pessoas, que dedicaram toda a sua vida, à área da cultura, quantas vezes com esforços supremos, assumiram já compromissos financeiros, designadamente bancários, com projetos já acordados, e agora aquilo que ouvem a câmara dizer é «corte-se!». 
 
Por último, e no que ao património cultural tangível diz respeito, nomeadamente o construído, a câmara tem uma política errante pois, se por um lado ainda recentemente tornava público a sua intervenção junto do IGESPAR no sentido de classificar as igrejas dos Loios e da Misericórdia, as quintas da Murtosa e do Seixal, a Mamoela de Vinhó, o convento dos Loios e o mercado municipal, abandona à destruição o castro de Fiães, a Mala-posta de Sanfins, trechos da antiga estrada real, etc.