Fará hoje sentido a discussão sobre a emancipação da mulher?

Uma interpretação séria dos dados existentes leva-nos à conclusão que esta discussão não só faz sentido, como tem sido relevada, sempre, para planos secundários. Apesar de quase 40 anos de democracia (incumprida é certo), as mulheres continuam a não ter um tratamento igual numa preocupante transversalidade da sociedade portuguesa.

Uma franja da sociedade, ainda que minoria, continua a considerar que existem profissões para elas e profissões para eles, sempre com desprimor para as delas. Esta minoria perpetuadora de valores fascistas é hoje, mais do que nunca, desmascarada e ridicularizada pelos avanços consideráveis que se fez com a democracia, ainda que incumprida.

No entanto, talvez fruto da perpetuação de valores fascistas anteriormente referidos, os dados indicam que elas continuam a sofrer descriminação a vários níveis. Os dados o Instituto do Emprego e Formação Profissional revelam que continuam a ser elas as maiores vítimas do desemprego (o concelho da Feira não é exceção).

A descriminação salarial resiste, os salários deles são superiores em mais de 20% quando comparados com os delas, no distrito de Aveiro esta discrepância é de 23%. Elas têm de trabalhar mais de 60 dias por ano para terem os mesmos rendimentos que eles.

Elas são mais vítimas da precariedade, o que as leva, copiosas vezes, a adiar o seu direito à maternidade, muitas de forma irreversível.

Apesar dos avanços que se haviam conseguido fazer, elas continuam a ser as grandes vítimas da violência doméstica, facto que se tem vindo a agudizar com a crise económica. Escusado será referir quem são as grandes vítimas da violência sexual.

Elas continuam a ser reprimidas pela sociedade e não raras vezes pela própria família. A perpetuação de valores fascistas faz com que ainda sejam recriminados comportamentos às mulheres que aos homens são permitidos de ânimo leve.

A lista é longa e impossível de refletir num texto que se pretende curto e conciso. Todavia, atesta-se a necessidade da comemoração do Dia Internacional da Mulher, não com os já típicos jantarzinhos de meninas e senhoras a que os Telejornais gostam de dar destaque, mas com uma discussão séria que vise a interpretação e resolução desta desigualdade. Na realidade, esta discussão tem existido, o que acontece é que não lhe é dada a devida importância pelos meios de comunicação que tanto têm contribuído para a desumanização da sociedade.

A discussão e resolução desta desigualdade passará por todos e não somente por elas, é que na realidade os problemas delas são os deles. Todos temos uma mãe, uma irmã, uma amiga, uma companheira que já foi, ou é, vítima da descriminação.

O que nos difere é tanto e tão pouco, o que nos separa de uma vida mais injusta de outra menos injusta é, apenas e tão-somente, um cromossoma.

Fiães, 23 de fevereiro de 2014

Filipe Moreira

 

Eleito da CDU na AM de Stª Mª da Feira