Era uma vez uma Caixa das Artes que ainda não tinha nascido. Não foi uma vez, não foi no ano passado, nem sequer foi assim tão recente que já contámos esta história. Mas esta não é uma história para adormecer. É uma história para acordar aqueles que eventualmente estejam adormecidos ou pouco alertas para ela.

Enquanto estive na Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira (e foram 8 anos), esta história foi-nos contada vezes sem conta. Havia lagos, havia vários centros, havia obras que começaram e pararam sem se prestar contas, havia mais projectos, havia desenhos de centenas de milhar de euros que nunca saíram do papel, havia arquitectos famosos, havia dinheiro europeu e depois não havia nada disto.

A CDU, que sempre perguntou, pediu contas, pediu justificações... bem sabíamos que o executivo nada diria. Contava-nos histórias. E nós sempre dissemos que o Cine-Teatro António Lamoso era «recuperável». Além de ser um símbolo da cidade da Feira, tinha um auditório cheio de história e uma intervenção de fundo para a sua recuperação e reabilitação seria o suficiente para preservar a história, projectando o futuro.

Mas a Câmara dizia que era impossível. Que tinha que ser mais, o projecto tinha que ser mais ambicioso, desmedido. Bem como o PSD gosta em Santa Maria da Feira: tem que ser grande e vistoso, mesmo que fique às moscas.

De repente, há (ainda mais) qualquer coisa que parece não jogar certo no meio da história da Caixa das Artes. Mesmo depois das centenas de milhar de euros gastos no Matadouro (e ali está ele ao abandono) para se concluir que o projecto não era viável, mesmo depois de um projecto de milhares de euros que ficou na gaveta, a Câmara insistia que iria ser aprovado um projecto para demolir o Cine-Teatro António Lamoso. Curiosamente, não era conhecido qualquer projecto e as máquinas já andavam nos terrenos adjacentes. Lembrou-se, em boa hora, a CDU, que um dos projectos previa uma «zona comercial». Em jeito de previsão, afirmámos que o objectivo seria construir o Continente. Perguntámos a que preço foram vendidos os terrenos, que licenciamento era aquele, quais as contrapartidas para Santa Maria da Feira? A Câmara nada respondeu.

Dez anos volvidos, o Matadouro ainda lá está, 250 mil euros mais caro e ainda assim abandonado. O Continente já está feito e a lucrar. E a Caixa das Artes? Desapareceu. Permanece, e bem, o velhinho Cine-Teatro António Lamoso, com obras de recuperação. A solução é de aplaudir, a CDU sempre a defendeu.

Mas há uma história que fica por contar: para quem foi o dinheiro esbanjado neste projecto, 10 anos volvidos, para a Câmara chegar a uma solução que nunca defendeu? A que preço comprou os terrenos e que isenções fiscais tem Belmiro de Azevedo? O que é feito dos projectos arquitectónicos milionários e quem ficou com o dinheiro de projectos que para nada serviram? Quem está a pagar as obras de requalificação do Cine-Teatro?

 

Lúcia Gomes