Filipe MoreiraRecentemente, Pedro Passos Coelho, recorrendo a uma estratégia que lhe é reconhecida de deturpação de informação, anunciou publicamente que haviam sido criados 130 mil postos de trabalho. Com a sua intervenção fez (propositadamente) surgir na opinião pública a falsa ideia de que se estava a assistir a uma recuperação do emprego. Como forma de desmistificar esta falácia lançada pelo atual Primeiro-ministro que se apresentando já em campanha eleitoral recorre a encobrimento de informação, apresenta-se neste artigo um resumo do trabalho realizado pelo economista Eugénio Rosa, cujos dados foram obtidos no sítio do INE (Instituto Nacional de Estatística).

Segundo a análise do economista anteriormente referido, é clarividente que no período entre o 4º trimestre de 2010 e o primeiro de 2015 foram destruídos 471.700 postos de trabalho e que salvo curtas exceções (entre o 1º e o 3º trimestre de 2013 e 2014) a tendência tem sido de perda de emprego que se estende ao presente ano.

Outra transformação que ocorreu com a “intervenção” da “troika” e do Governo PSD/CDS na realidade do trabalho em Portugal foi o aumento de trabalhadores a auferir salários líquidos inferiores a 310€, que passou de 3,2% no primeiro trimestre de 2010 para 4,2% no 1º trimestre de 2015. 32,3% dos trabalhadores têm salários inferiores a 600€ e 60,4% tem salários inferiores a 900€. O salário médio ronda atualmente os 763€/mês em Portugal, o que é manifestamente baixo, no entanto há a intenção explicita das “troikas” (nacional e estrangeira) para que se proceda a uma baixa salarial.

Ainda segundo os dados do INE, Eugénio Rosa refere o facto de a população com menos escolaridade ter sido a mais afetada pela onda de desemprego. Acrescenta-se o aproveitamento, registado, das entidades patronais que fruindo do elevado número de desempregados têm procedido à substituição dos trabalhadores mais velhos por mais novos e com mais escolaridade, mas com salários mais baixos.

Apesar de o emprego ocupado por trabalhadores com o ensino secundário e superior ter aumentado 435,2 mil, não foi suficiente para compensar a destruição de emprego ocupado por trabalhadores com o ensino básico nem para travar o aumento do desemprego nos jovens.

Regista-se, ainda, que o número de trabalhadores que foram obrigados a aceitar trabalho a tempo parcial por não encontrarem a tempo inteiro, recebendo salários reduzidos, aumentou 254,5%, assim como os trabalhadores que deixaram de procurar emprego por não encontrarem (que cresceu em 266%).

Os números apresentados no estudo do economista só não são mais graves devido à brutal emigração que se assistiu nos últimos anos e que serviu de escape. Relativamente a esta emigração forçada importa salientar que dada a natureza e qualidade da massa de trabalhadores que saiu os efeitos devastadores para a economia e sociedade poderão sentir-se com maior impacto apenas no futuro. Pois muitos dos que saíram são altamente qualificados nas suas áreas de ação e devido à diferença salarial não manifestam intenções de regressar, estando assim a contribuir para o desenvolvimento de outras economias após o investimento das famílias e do Estado português nas suas formações.

Este é o Governo que efetivou o maior ataque à classe trabalhadora, desde que se alcançou a democracia, retirando direitos, diminuindo salários, aumentando impostos e convidando a emigrar a geração que seria o futuro do país. O ataque é sentido especialmente nas camadas mais jovens, que são também as mais pobres segundo as última análise da OCDE, que de entre todos os países integrantes da organização, situa Portugal no rol de países mais pobres e desiguais.

A verdade é bem clara, apoiar os partidos que nos levaram a este estado (PSD/CDS e PS) é apoiar o desemprego estrutural, a precarização, a emigração forçada, a pobreza jovem, a destruição de setores estratégicos do Estado, a desinformação, a demagogia de uma economia que não serve os interesses da generalidade da população portuguesa e é apoiar a perda de soberania. Este Liberalismo da economia tão profetizado, inclusivamente no concelho feirense, tem como único objetivo o fazer muito dinheiro e rápido ignorando por completo as pessoas.

Com esta realidade, espera-se que nestas eleições legislativas se discuta o que realmente interessa ao país e à sua população e se deixe o debate demagógico e centralizado em três partidos e nas suas personagens que são as principais responsáveis pela situação em que Portugal se encontra.


Santa Maria da Feira, 24 de maio de 2015

Filipe Moreira

Eleito da CDU na Assembleia Municipal de Stª Mª da Feira


1todos os números apresentados neste artigo foram tratados pelo economista Eugénio Rosa com base nos dados do INE, podendo aceder-se ao artigo do mesmo em www.eugeniorosa.com