Senhor Presidente da Assembleia da Municipal,

Senhor Presidente e demais elementos da Câmara Municipal,

Senhoras e Senhores eleitos,

Estimadas e estimados convidados,

Minhas Senhoras e meus Senhores,

 

Perdoem-me se esta intervenção não corresponder aos preconceitos de alguns relativamente ao que se espera de um comunista nestas intervenções, mas Abril também foi o romper de preconceitos.

Há 43 anos atrás, Abril estava em curso há cerca de 11 horas. A euforia de um povo reprimido por quase cinquenta anos era expressa nas ruas.

Numa perspetiva muito pessoal, o 25 de Abril foi o momento mais bonito, mais envolvente e mais extraordinário da História de Portugal enquanto Nação e talvez até enquanto país.

(Isto porque se seguirmos o pensamento de José Mattoso, Portugal apesar de ter surgido há mais de 800 anos enquanto território reconhecido como país, a verdade é que apenas se tornou numa nação, na verdadeira acessão do termo desde o século XIX. Relembro um acontecimento por ele referido, em alguns dos seus textos relativo ao Rei D. Luís que navegando pela costa portuguesa se cruza com pescadores e lhes pergunta se são portugueses, ao que eles respondem que não, que são da Póvoa de Varzim. Momento revelador da perceção que o povo tinha da sua nacionalidade.)

Momento celebrado por poetas e cantores espalhados por todo o mundo, da Ásia à América Latina. Que influenciou outras revoluções e muita esperança trouxe aos povos que ainda viviam em ditadura, nomeadamente na vizinha Espanha e no Brasil.

Voltando ao raciocínio inicial, se me permitem, analisemos, ainda que de forma muito reduzida, alguns dos mais marcantes momentos dos mais de 800 anos de História do Estado Português.

Se, neste momento, num ato de interatividade entre nós surgisse a questão de qual o momento mais marcante da nossa História, muito provavelmente a maioria assinalaria a época dos Descobrimentos. É indubitável a importância deste período histórico para o país, para a Europa e para o mundo. Levou a transformações sociais, religiosas, culturais e até económicas em todo o planeta, mesmo apesar de hoje sabermos que a “glória” destes tempos não é tão heroica como o Estado Novo quis transparecer. 

Todavia, qual o impacto dos Descobrimentos para os portugueses? Quem beneficiou verdadeiramente com os Descobrimentos? Será que a criação de um Império beneficiou as camadas mais desfavorecidas da sociedade?

A verdade é que os dados que hoje temos aponto no sentido de que quem realmente beneficiou foi a nobreza, o clero e a burgesia.

Se recuarmos ainda mais, até ao tempo da conquista de território aos Mouros. Será que este período denominado de Reconquista trouxe assim tantas vantagens para toda a população? Ou terá trazido apenas trazido para os nobres cristãos que enriqueceram e ficaram com o monopólio das novas terras, a par do clero que aumentou o seu poder e influência.

Avançando até ao século XVII, quem realmente terá beneficiado da Independência da coroa de Espanha? Que mudanças sociais ocorreram com a passagem da coroa de Espanha para os nobres portugueses?

Mesmo a vitória dos Liberais na Guerra civil já no século XIX, trouxe melhoria das condições de vida para a generalidade dos portugueses? Os registos indicam que não.

Podia aqui enunciar outros momentos, como a Revolta da Maria da Fonte, a Batalha de Aljubarrota ou até mesmo a expulsão dos Franceses. Algum destes momentos foi tão revolucionário para a generalidade da população como o 25 de Abril?

A verdade é que nem mesmo a Implantação da República o foi. Como bem se sabe, este foi um período marcado por fortes ideais, valores e até intenções. Mas também marcado por grandes conflitos internos, muita instabilidade, pouco sucesso na concretização do sonho republicano, que nem sequer reconhecia as mulheres como seres com capacidade de decisão para votar e por isso foi também o período da desilusão.

O 25 de Abril deu origem ao momento mais libertador, mais inclusivo e mais envolvente do país. Com o 25 de Abril todos passaram a ser voz, passaram a contar. Independentemente do género, idade, origem social, religiosa ou cultural

O 25 de Abril não é somente a Liberdade e a Democracia! É a igualdade, é uma redução nunca antes vista em Portugal do analfabetismo, aumento da esperança média de vida, da qualidade de vida, é o SNS, é Revolução Cultural, é a Paz, é o Estado Social é uma evolução nunca antes vista num Estado Ocidental. Poderíamos continuar terminando no ser também a responsabilização de todos para a manutenção dos direitos e valores defendidos com a Revolução que como sabemos não estão garantidos para a eternidade.

Enquanto cidadãos e agentes políticos ativos, não podemos deixar cair a memória do que foi, do que representou e do que representa o 25 de Abril para o país e para os portugueses.

Enquanto agentes políticos, temos de ter consciência de que a Democracia criada ainda não é perfeita, ainda há muito por fazer e temos o dever de o fazer.

43 anos passaram desde que a Revolução de Abril se iniciou, tendo ao longo dos anos se registado muitos avanços e recuos.

Porém, hoje, muitos dos mais novos não têm consciência do que realmente representa este acontecimento, limitando-se a elencar a Liberdade, sem grande consciência do que realmente estão a afirmar, como quem participa numa cerimónia religiosa e se limita a repetir o que a multidão diz sem reflexão (e muitos nem isso são capazes). Isto porque, muitas vezes damos valor apenas ao que perdemos e não valorizamos aquilo que foi conquistado por outros. No entanto, como disse há pouco, não nos podemos esquecer que estas conquistas não são eternas.

Tratando-se este de um momento impar para a História de Portugal, que deu origem nomeadamente ao Poder Local Democrático, porque não investir num estudo que demonstre o impacto que teve no nosso município. À semelhança do que fez a Câmara Municipal nos anos 80 do século passado com o já referido Professor José Mattoso na tentativa de perceber qual o lugar da Feira e do seu castelo na História nacional. Estudo aliás que seria muito interessante ver reeditado à luz dos novos conhecimentos que se tem da região.

Sabendo de antemão que só o conhecimento leva à valorização, deixo o repto à Câmara Municipal ou a quem vier a assumir a gestão da mesma nas próximas eleições, que invista no financiamento de um estudo desta índole para que se possa trazer à luz, de uma forma sistematizada, qual foi o impacto do 25 de Abril no nosso município, nomeadamente na Educação, Saúde, infraestruturas, qualidade de vida, etc.

Lanço também o repto para que se efetivem ações para uma aproximação dos jovens, nomeadamente através das nossas escolas, a estas celebrações de Abril, se possível com o seu envolvimento.

É do nosso entender que Abril não deve ser celebrado apenas pela elite política do concelho que aqui hoje está muito representada, mas cuja média de idades ultrapassa os 40 anos.

Ainda nesta linha de pensamento, retomo a ideia de que cabe principalmente a nós, enquanto agentes políticos ativos, manter os valores e ideais de Abril vivos. E o rumo que temos seguido do Capitalismo Selvagem Global que metamorfoseou o Trabalho, fazendo com que deixasse de ser agente libertador para ser agente repressor. Caminhando-se a passos largos para que o único regulador seja o lucro dos grandes grupos económicos. Exemplo disso é a crescente precariedade no mercado de trabalho que traduz a ausência de humanismo do mesmo. Estes valores não cabem em Abril.

Não nos podemos nunca esquecer de que somos os privilegiados por fazer parte deste momento histórico de Portugal, não o deixemos cair!

Viva Abril!

 

Santa Maria da Feira, 25 de abril de 2017

Filipe T. Moreira

Eleito da CDU na Assembleia Municipal