CDU

Ao ler a data de 25 de Novembro, pensei que um laivo de racionalidade e humanismo houvera chegado ao CDS no assinalar do Dia Internacional para a Erradicação da Violência sobre as Mulheres. Cedo desfiz o engano e com pesar e lamento, leio as palavras reaccionárias e confusas de alguém que ainda tem muito para aprender com a Democracia e a História do povo português. Como dizia Ary, o poeta revolucionário, para muitos, e para o CDS, o regime democrático não passa de um baile de tartufos onde se passeia a burguesia, muita dela entalada ainda com a liberdade conquistada. Assim, não perderei muito tempo com explicações. Elas são a nossa História. Apenas deixo as palavras de Álvaro Cunhal, retiradas da brochura “Se fores preso camarada”, sobre as torturas que muitos comunistas, socialistas e democratas sofreram para que hoje se tenha a veleidade de afirmar o indizível.

“Para obter declarações, a policia maltrata os presos. muitos camaradas nossos foram selvaticamente torturados:
com espancamentos brutais durante horas e horas a cavalo-marinho e com grossas tábuas, apertos de testículos, queimaduras com faíscas eléctricas e com cigarros, pancadas brutais nas plantas dos pés descalços, etc.

(...) as mulheres já não são poupadas às brutalidades e algumas têm sido despidas e chicoteadas pelos bandidos da pide.

Os nomes dos mártires resistem ao tempo e ficam na lembrança das classes trabalhadoras e dos comunistas como faróis a guiar o seu comportamento:

Bento Gonçalves
Militão Ribeiro
Alfredo Dinis
Alfredo Caldeira
José Moreira
José Dias coelho
Ferreira Marquês
Germano Vidigal
Vieira Tomé
Augusto Martins”
Sofia Ferreira e tantos outros camaradas, entre os quais o nosso Ferreira Soares.

O programa governativo de emergência do Governo Nacional Democrático Provisório, no seu comunicado ao povo português estabelecia como prioridades:

“1 – Destruição completa do Estado Fascista Português

2 – Estabelecimento duma ordem democrática em Portugal

3 – Possibilidade (para o povo português) de escolher, em eleições verdadeiramente livres, os seus governantes”

4 – Tornar Portugal uma nação militante da grande coligação mundial antifascista”.

As liberdades e a Constituição ainda estão por cumprir para milhares de portugueses. Talvez seja essa a espinha na garganta do CDS. Uma lei fundamental que garante os direitos e as liberdades mais básicas a todos e todas, para um partido que não descansa enquanto estas não forem de alguns.

Mais do que o voto contra, esta moção merece o nosso repúdio veemente em nome de todos os que lutaram e lutam por uma sociedade justa, democrática e livre.


Lúcia Gomes