O município da Feira tem sido vítima de uma falta de visão no respeitante a transportes públicos. Prova disso é o défice nesta área, quando comparado com outros municípios com características idênticas.

No nosso concelho desde há várias décadas que a aposta principal e praticamente única tem sido para os transportes privados assentes única e exclusivamente na rodovia. Quero com isto afirmar, que não tem sido desenvolvida uma política de transportes públicos assente nas necessidades da população.

Atente-se, aquilo que temos mais parecido a um centro de camionagem não é mais do que uma paragem de autocarro na Cruz, em Santa Maria da Feira. Nesta paragem passam autocarros para diversos pontos do país, como Lisboa, Porto e Braga, a que ocorrem centenas de feirenses todas as semanas. Porém, no local não há sequer um horário dos mesmos ou dos autocarros que deveriam fazer a ligação a todo o município. Esta situação só não é anedótica, porque tem o seu grau de perversidade e de perigo, uma vez que uma das agências que ali faz serviço tem o seu posto de venda do outro lado da estrada nacional 223. Relembra-se que, nesta via não existe ponte pedonal ou passadeira e dado o tráfego normal um peão que a tente atravessar estará a praticar um ato de loucura (ainda que compreensível) uma vez que a alternativa é ir pelo túnel junto aos Passionistas.

O centro coordenador de transportes tem sido uma promessa incontornável, mas sempre sem a aparente intenção.

A este triste exemplo, assistiu-se ao longo dos anos a uma não promoção de por exemplo do comboio. Hoje todos tomam lugar nas fileiras da defesa da Linha do Vale do Vouga, mas em tempos assumiram posições de total delegação para o esquecimento, afirmando que não servia os interesses do município. A prova disso é que apesar de esta linha atravessar o concelho há mais de cem anos, verifica-se que os serviços públicos foram colocados sempre afastados das estações da mesma. Permitiu-se, ainda, um crescimento que relevasse as referidas estações para as periferias das freguesias.

No respeitante a serviços públicos de transportes municipais temos o projeto Transfeira. Manifestamente insuficiente e desajustado das necessidades do município, revelador de uma ausência de planeamento e de aposta. Contrariamente ao que o PSD tenta fazer crer, há em Portugal municípios que estavam na mesma situação e que resolveram o problema, sendo hoje um exemplo. Criaram um serviço público de transportes integrador e agregador de todas as freguesias que considerou as reais necessidades do seu território e que em curto prazo já se revelou rentável para as populações e para a Câmara Municipal.

Porém, o PSD alega que até as operadoras privadas tiveram de desistir de algumas carreiras por não terem utentes. Todavia, não nos podemos esquecer que estas operadoras têm como objetivo o lucro e que têm apresentado, na generalidade, serviços desadequados e de fraca qualidade de horários.

Por outro lado, um serviço público não o tem como objetivo final o lucro. Não queremos com isto dizer que o prejuízo deve ser aceite de ânimo leve. O que sugerimos é que aquando da criação da rede de transportes públicos do concelho se tenha em consideração as carreiras mais lucrativas de forma a cobrirem a despesa das menos lucrativas produzindo o efeito de igualdade para toda a população.

Evidentemente que esta rede de transportes poderá ser pensada no quadro da Área Metropolitana do Porto. Esperemos que a presidência do presidente da Câmara Municipal da Feira neste órgão contribua para algum avanço.

Nesta linha de pensamento, sugerimos alguns dos primeiros passos a serem tomados para se dar inicio à criação de uma rede de transportes públicos no concelho de Stª Mª da Feira, que não foram aprovados com os votos contra da direita na Assembleia Municipal.

O que propusemos foi que:

  • Seja criada uma Comissão Municipal de Mobilidade com vista à criação de um Plano de Circulação que contemple a ligação a diversos transportes públicos numa rede que cubra todo o concelho, tendo em consideração as necessidades dos munícipes;
  • Gradualmente se proceda ao aumento dos serviços da Transfeira, com vista a dar resposta às reais necessidades do município;
  • Gradualmente se proceda à requalificação das paragens de autocarro com vista à criação de melhores condições para os cidadãos portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida;
  • Se proceda à colocação de horários dos transportes nas paragens de autocarros;
  • Se intervenha por uma requalificação das estações de comboio com vista à melhoria das suas condições principalmente para os cidadãos portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida;
  • Se intervenha junto do Governo para que a Linha do Vale do Vouga seja renovada, requalificada e valorizada, e que sejam criadas as condições que incentivem a sua utilização.

Não há dúvidas da premência que é a criação de uma rede pública de transportes que tenha em consideração as reais necessidades dos feirenses, principalmente os que dela mais precisam, nomeadamente os idosos, jovens e cidadãos que não têm outra alternativa.

Stª Mª da Feira, 24 de Fevereiro de 2017

Comissão Coordenadora da CDU / Stª Mª da Feira